Por Douglas Dantas
As conversas entre seres humanos e máquinas, tão famosas durante décadas nos filmes futuristas, se tornou realidade. Mais do que isso: os pequenos robôs – mais carinhosamente conhecidos como assistentes virtuais – se tornam importantes ferramentas para facilitar o dia a dia. Quanto mais caiam no gosto do público, mas abriam caminhos para movimentar e acelerar a inovação em outros segmentos de mercado. O e-commerce, por exemplo, viu nesse contexto uma oportunidade única para se tornar ainda mais digital e próximo do consumidor. Assim, surgiu o voice commerce, ou compra por voz, como passamos a chamar em bom português.
Estudo da consultoria britânica Juniper Research aponta que o v-commerce vai movimentar US$ 80 bilhões em 2023. De acordo com a empresa, até lá mais de 8 bilhões de assistentes de voz estarão ativas em todo o mundo – o triplo de 2018. O impulso para a adesão dos assistentes e a expansão global da modalidade veio com a pandemia. O isolamento social mudou o comportamento do público, que se viu obrigado a procurar alternativas digitais e sem contato para continuar o consumo – do básico, como alimentos, roupas e remédios, até itens como eletroeletrônicos e móveis.
No Brasil, um levantamento da consultoria Ilumeo, especializada em Data Science, mostra que o uso dos assistentes virtuais cresceu 47% durante a pandemia. A pesquisa apontou que 54% dos entrevistados já veem mais valor em produtos e serviços que permitam as interações por voz, com duas a cada três pessoas afirmando ter interesse em seguir utilizando dispositivos dessa forma. Segundo o estudo, 20% dos brasileiros, inclusive, usam a tecnologia diariamente.
Com diversas opções em português, como Alexa, da Amazon, Google Assistente, do Google, Siri, da Apple e Bixby, da Samsung, a expectativa é que o sistema de interação e compra por voz se intensifique ainda mais no país com o avanço da internet das coisas (IoT), alavancado pelo 5G.
A explosão do v-commerce está diretamente conectada aos novos desejos e necessidades dos consumidores. A modalidade permite uma experiência de compra muito mais personalizada. Com base nos dados coletados, as empresas podem criar preferências, desenvolver nodos produtos, mapear estratégias de marketing e ser muito mais eficazes. O sistema também oferece conveniência, já que não há necessidade de complexas configurações ou uso de softwares rebuscados. Basta habilitar o assistente no dispositivo preferido e pronto.
A velocidade também faz brilhar os olhos do público. Esqueça a era da digitação, com mil informações até conseguir concluir a compra. Agora é só sair falando o que deseja, adicionar itens ao carrinho e finalizar a compra. A voz também auxilia na segurança. Algumas lojas de comércio eletrônico já usam essa característica como ferramenta de verificação para check-outs seguros, diminuindo a probabilidade de roubos ou fraudes.
Embora a fatia do mercado das buscas e compras por voz ainda não esteja totalmente estabelecida no Brasil, ganhar e manter a visibilidade nas plataformas ativadas por esse sistema será imprescindível para se manter competitivo no futuro, em razão desses benefícios. As marcas que não querem ficar para trás neste filão do comércio eletrônico precisam se adaptar desde já, caso ainda não tenham feito.
Como toda tecnologia inovadora em expansão, a compra por voz apresenta desafios bem característicos. O maior deles, talvez, seja a criação de um padrão para acompanhar a complexidade da fala humana. Em razão dos muitos sotaques, empregos diferenciados de termos e outras especificações pode ser difícil entender o que o cliente deseja pesquisar ou comprar.
A limitação das plataformas é outro obstáculo.
Poucas são às soluções voltadas ao comércio eletrônico que oferecem a integração da busca por voz, o que pode ser um impeditivo para os consumidores que estão se acostumando a essa tecnologia. No quesito usabilidade, também é preciso lembrar que a experiência do v-commerce não oferece, em muitos casos, o acompanhamento visual. Por isso, a descrição dos produtos deve ser a mais detalhada possível. A dica é investir em palavras-chave que possam otimizar a buscar e garantir que seu produto esteja nas melhores posições.
A preocupação com a segurança e sigilo de dados também é algo recorrente. Em especial quando o uso da ferramenta é feito para o acesso de serviços importantes, como bancos e compras de um modo geral. O varejo conversacional têm potencial para se tornar uma extensão das relações dos consumidores com as empresas de forma ainda mais fluída e sem fricção. O varejo e a indústria terão um papel valioso de prestadores de serviços para resolver problemas para o cliente, seja lá onde ele estiver.
A tecnologia avança em ritmo acelerado, e isso faz com que os produtos se tornam muito mais intuitivos, fáceis de usar e agreguem diversas funcionalidades no dia a dia dos seus usuários. Com o comando de voz, isso não é diferente — embora ainda haja muitos pontos para evoluir, as pessoas já estão bem íntimas desse recurso e provavelmente vão responder de forma positiva ao que ainda está por vir.