VTEX Day 2025: O futuro do varejo humano, inteligente e conectado

Nathálya Soviersovski

09/06/2025

O VTEX Day 2025 foi muito mais do que um simples evento de tecnologia e varejo. Na prática, ele reuniu pessoas que realmente estão definindo os rumos do universo digital. Durante dois dias intensos, 2 e 3 de junho, mais de 20 mil participantes e mais de 120 horas de conteúdo criaram o ambiente perfeito para troca de experiências e networking qualificado. Grandes líderes, profissionais do setor e marcas inovadoras trouxeram discussões sobre inteligência artificial, uso de dados e o papel essencial da criatividade humana na transformação das relações de consumo, estratégias de marketing e liderança empresarial.

O evento não se limitou a apresentar tendências teóricas. As palestras trouxeram caminhos práticos, abordaram desafios reais da indústria e compartilharam visões concretas sobre o futuro, que já estão batendo à porta. Em um cenário de mudanças aceleradas, empresas e profissionais que buscam relevância precisam estar prontos para se adaptar.

Nossa equipe marcou presença, mais uma vez como patrocinadores oficiais, e entrou de cabeça nessa atmosfera. A partir dessa experiência, reunimos os principais insights e reflexões estratégicas que fizeram do VTEX Day 2025 um guia para quem deseja liderar a transformação do mercado.

Temas centrais abordados no evento

A inteligência artificial e o novo padrão de competitividade

No VTEX Day 2025, a inteligência artificial deixou de ser apenas tendência para se tornar requisito básico de competitividade. O evento deixou claro: IA, especialmente os modelos generativos e agentes inteligentes, já são essenciais para quem quer crescer e se manter relevante. A mensagem foi direta: empresas que não se adaptarem rápido provavelmente ficarão para trás.

O foco ficou no futuro do comércio: não é só digital, é cognitivo e totalmente centrado no cliente. Nomes como Google, AWS, NVIDIA, AMARO e Santander mostraram como estão usando IA para avançar muito além da automação básica. Eles trouxeram exemplos de hiperpersonalização, automação inteligente de processos complexos e decisões autônomas baseadas em análise de grandes volumes de dados em tempo real. Uma questão importante surgiu: estamos preparados para criar sites otimizados para leitores automatizados, não apenas humanos? Isso sinaliza uma mudança profunda na forma de construir e consumir experiências online.

A loja física como centro estratégico da experiência omnichannel

O evento também mudou a perspectiva sobre o papel da loja física. Longe de ser ultrapassada, ela se consolidou como hub estratégico na jornada omnichannel. Hoje, a loja física é espaço de relacionamento, fonte de dados valiosos sobre comportamento do cliente e, sobretudo, um ambiente de experiência que o digital ainda não consegue replicar integralmente.

Cases como Americanas, Drogaria DPSP e Reserva ilustraram essa integração. A loja física se tornou laboratório de testes de novos produtos, ponto de retirada eficiente (click & collect) e fonte de inteligência de mercado, gerando dados importantes para estratégias online e offline. Não existe mais separação, físico e digital se complementam, criando uma experiência de compra mais fluida e relevante.

Concierge Commerce: menos atrito, mais relevância

O conceito de Concierge Commerce, apresentado por Mariano Gomide, cofundador da VTEX, foi um dos grandes insights do evento, representando uma evolução no atendimento e personalização no e-commerce. A ideia central é simples e eficiente: em um cenário de excesso de informação e oferta, o tempo do cliente é o recurso mais valioso. Concierge Commerce propõe antecipar necessidades, eliminar barreiras na jornada de compra e personalizar interações de forma proativa.

Vai além de recomendações. O objetivo é criar experiências que realmente economizem tempo, seja com assistentes inteligentes, ofertas personalizadas ou entregas programadas que se encaixam na rotina do cliente. É um novo diferencial competitivo: transformar conveniência em valor concreto para o consumidor.

Uso Estratégico de Dados

A discussão sobre o uso estratégico de dados reforçou que não basta coletar informações, é preciso analisar e aplicar dados de forma estratégica. Personalização hoje envolve entender padrões de compra, comportamento de navegação e interações com a marca para desenhar jornadas de compra mais efetivas e entregar promoções relevantes no momento certo.

Uma pesquisa da Cielo mostrou que muitos varejistas ainda subutilizam seus dados, o que representa uma grande oportunidade para quem investir em tecnologia e capacitação. Mais que coletar, é fundamental transformar dados em insights acionáveis para decisões estratégicas, impulsionando resultados e colocando a empresa à frente da concorrência.

Retail Media

A consolidação do Retail Media como um canal de mídia demonstra uma evolução natural do e-commerce. O movimento das grandes varejistas em valorizar seus próprios dados e o tráfego das plataformas não é mais tendência, virou prática de mercado. Agora, marcas, inclusive concorrentes ou fornecedores, têm a oportunidade de anunciar dentro dos sites e apps dos próprios varejistas, impactando o consumidor em um estágio decisivo do funil de vendas.

A ênfase que o evento deu ao tema, inclusive com um palco dedicado, evidencia a maturidade crescente e o potencial de receita do Retail Media. A estratégia foi além do tradicional banner: estamos falando de experiências publicitárias integradas, como produtos patrocinados nos resultados de busca, ofertas customizadas no checkout e conteúdos de marca inseridos no ambiente do e-commerce. Para os varejistas, isso representa uma nova fonte de monetização, para os anunciantes, um canal altamente qualificado para conversão no momento-chave da decisão de compra.

Transformação do B2B

A transformação digital do B2B também foi destaque no VTEX Day, sinalizando que o segmento está acompanhando o ritmo de evolução já visto no B2C. O modelo antigo, marcado por processos manuais e negociações complexas, está dando lugar a operações mais eficientes e centradas na experiência do cliente.

Hoje, as empresas B2B buscam automatizar pedidos, administrar catálogos online, personalizar preços e condições comerciais, além de integrar sistemas de gestão (ERP) para ganhar agilidade e precisão. O grande diferencial agora é o uso estratégico de dados: analisar histórico de compras, antecipar necessidades e mapear tendências de mercado para entregar soluções sob medida. No fim, trata-se de construir parcerias sólidas e duradouras, com foco real em eficiência e relacionamento.

As palestras que moldaram o pensamento estratégico no VTEX Day

O evento trouxe à tona não apenas tendências, mas visões práticas e provocadoras sobre o futuro do varejo, da tecnologia e da liderança. As palestras colocaram em pauta desde o papel da IA na hiperpersonalização até o marketing orientado por propósito e conexão humana. Vamos aos destaques que mais movimentaram o público:

Entre desafios e soluções: Como estruturar uma transformação digital em segmentos diferentes do varejo

Com a participação de líderes da PayPal, Vibra e Bank of America, essa palestra mostrou como empresas de diferentes setores vêm acelerando a inovação ao mapear, com precisão, os principais desafios da jornada do consumidor. O consenso entre as executivas foi claro: transformação digital não é um projeto de TI isolado. É um movimento contínuo de adaptação às demandas reais dos clientes.

Ana Paula Kagueyama – Senior Director, Global Customer Services & Site Leader da PayPal, destacou que o uso inteligente de dados estatísticos é fundamental para criar produtos que resolvam problemas concretos. Já Mariana Alonso, da Vibra, apresentou a estratégia da empresa para o ecossistema B2B, com o objetivo de transformar postos de combustíveis em verdadeiros hubs de experiências personalizadas, ultrapassando o tradicional abastecimento e oferecendo serviços customizados em cada ponto de contato.

As líderes reforçaram que o investimento em dados, automação e tecnologia vai além da busca por eficiência operacional. Ele permite que as equipes atuem com foco estratégico e fomenta uma cultura de inovação realmente sustentável, essencial para manter a competitividade em um mercado em constante evolução.

Content-Driven Commerce: A mudança no comportamento do consumidor

O tema central da conversa entre Simone Sancho – Founder & CEO da Belong Be, Daniela Dantas – Vice President Latin America da WGSN e Silvia Belluzzo – Head of SMB Marketing LATAM do TikTok, foi, sem rodeios, a economia da atenção. Hoje, tempo virou um ativo valioso, quem consegue conquistar a atenção do consumidor já sai na frente do jogo.

As palestrantes enfatizaram que a verdadeira revolução à vista não é só tecnológica, mas também profundamente humana. Plataformas de games, por exemplo, já estão influenciando o comportamento das próximas gerações e, inevitavelmente, vão impactar todas as indústrias. Ou seja, conteúdo precisa ser autêntico, colaborativo e, acima de tudo, emocionalmente relevante para gerar engajamento de verdade.

Silvia Belluzzo ressaltou que a inteligência artificial está acelerando a criação de conteúdos criativos numa escala inédita, mas o objetivo final segue sendo bem humano: criar identificação, senso de pertencimento e conexões reais com o público. E, como destacou Daniela Dantas, a creator economy está evoluindo, cada vez mais o destaque vai para criadores com propósito, educadores e líderes de comunidade, gente que busca não só audiência, mas relevância cultural no mercado.

From chaos to clarity: How mental mastery drives effective decisions

Em uma conversa inspiradora, Shane Parrish – estrategista e autor best-seller e Cristina Junqueira – cofundadora do Nubank, abordaram o poder da clareza mental na liderança em tempos incertos. Parrish defendeu a importância de desenvolver modelos mentais sólidos que ajudem a navegar complexidades e tomar decisões baseadas em princípios.

Já Cristina trouxe a visão prática, compartilhando como no Nubank a cultura de aprendizado contínuo e a disposição para testar novas ideias foram fundamentais para transformar o banco em uma referência global de inovação. A conversa fluiu como uma troca de experiências entre dois líderes, onde teoria e prática se complementaram com exemplos reais, reforçando que o pensamento estratégico é construído com disciplina, vulnerabilidade e coragem para errar.

Retail 2030 e AI Impacts

Enio Garbin – Head LATAM da AWS, trouxe uma visão ousada sobre o que nos aguarda no varejo até 2030. Ele destacou uma transformação puxada pela ascensão dos agentes autônomos, automação completa da jornada do consumidor e uma revolução nos mecanismos tradicionais de marketing. Segundo Garbin, os LLMs (Large Language Models) vão se tornar commodities, enquanto surgem os chamados “Jeeves” – agentes de IA que realizam compras de modo totalmente autônomo.

Esses agentes, conforme Garbin explicou, não terão qualquer lealdade à marca. Vão buscar unicamente a melhor opção, analisando variáveis como preço final (incluindo impostos e frete), cupons, programas de fidelidade e reputação do vendedor. Isso desafia profundamente o modelo atual de SEO, anúncios pagos e personalização tradicional do varejo.

Com dados da Adobe Analytics, Garbin mostrou que o tráfego gerado por IA está dobrando a cada dois meses desde setembro de 2024, com setores como turismo, varejo e bancos liderando esse movimento. Ele encerrou com uma provocação direta ao mercado: os varejistas estão preparados para otimizar seus canais para agentes autônomos, em vez de focar apenas no consumidor humano? A mensagem é clara: adaptação é urgente.

Da inovação à aplicação: O futuro da Inteligência Artificial no Brasil

Fábio Coelho – Presidente do Google Brasil, foi direto ao ponto ao destacar a IA como uma tecnologia de propósito geral, do mesmo calibre da eletricidade ou da internet. Na visão dele, estamos só no começo dessa “Revolução Cognitiva”, e a IA promete transformar a maneira como pensamos, trabalhamos e aprendemos.

O Brasil, surpreendentemente, surge como referência global na adoção de IA, uma vez que 83% da população digital já se considera “expert” no assunto. Ele frisou que a IA dá autonomia ao profissional, por exemplo, tarefas que antes exigiam times inteiros agora podem ser executadas por uma única pessoa, desde que ela tenha as ferramentas certas.

Por fim, ele apontou para um futuro dominado por agentes e robôs capazes de perceber, decidir e agir. Esse novo cenário vai exigir não só uma infraestrutura digital robusta, mas também governança ética e muita criatividade humana para acompanhar o ritmo das mudanças.

O novo marketing H2H: Mudanças estratégicas para envolver empresas com pessoas e comunidades

Philip Kotler, considerado o pai do marketing moderno, trouxe pontos relevantes sobre o papel do marketing nesse novo cenário digital e com IA entrando pesado no jogo. Ele reforçou que os 4 Ps ainda são a base de tudo, só que, claro, o significado deles mudou, especialmente o tal do “Place”, que virou “Distribuição”, totalmente repensado pra atender às exigências do digital.

Na visão do Kotler, a pegada do marketing do futuro é H2H, ou seja, de humano pra humano. Estratégia e tática precisam andar juntas, não adianta planejar e não executar. E ele deixou claro, ficar só idealizando, sem testar, é um erro clássico que ainda rola muito no mercado. O profissional de hoje tem que ser flexível, ajustar as ações o tempo todo, sem medo de recalcular a rota.

Pra fechar, ele foi bem enfático: “Once you go digital, you are ready for AI”. Transformação digital não é opcional, é pré-requisito pra aproveitar de verdade o que a IA tem pra oferecer. O novo mantra? Menos gente, mais impacto. IA assume o operacional e libera o time pra focar em criatividade, empatia e estratégia, onde realmente podemos agregar valor.

Agents AI e a hiperpersonalização aplicada no negócio

Essa palestra reuniu nomes como Luís Fernando Liguori – Brazil Head of Architecture at Amazon Web Services Brazil, Renata Castilho – Marketing Director da AMARO, Guilherme Fuhrken – LATAM Enterprise Sales Manager da NVIDIA e Santiago Naranjo – CRO da VTEX, para discutir a evolução da IA aplicada aos negócios. Hoje, hiperpersonalização já não é diferencial, virou requisito básico para competir.

Renata Castilho compartilhou como a AMARO está implementando IA para oferecer experiências personalizadas em grande escala, incluindo provadores virtuais que duplicam a conversão e reduzem devoluções. Guilherme Fuhrken trouxe exemplos práticos de agentes autônomos que executam tarefas complexas, gerando ganhos contundentes, especialmente nos setores de saúde e financeiro.

Ficou claro no debate que a IA não está aqui para substituir pessoas, mas para automatizar funções operacionais. O que realmente passa a ser diferencial é o capital humano – pensamento crítico, habilidade de relacionamento e propósito são as competências que vão impulsionar o sucesso no novo cenário corporativo.

Conversa Moderada com Viola Davis

A presença de Viola Davis encerrou o evento de forma emocionante. Em uma conversa com Rafaela Rezende, General Manager da VTEX Brasil, a atriz compartilhou histórias de vida marcadas por vulnerabilidade, medo e superação, tudo de forma muito autêntica.

Viola destacou que o grande ponto de virada em sua carreira aconteceu quando ela parou de tentar se encaixar nas expectativas dos outros e decidiu assumir sua autenticidade. Esse movimento de aceitação, segundo ela, exigiu coragem e redefiniu seu caminho profissional. Ela trouxe a seguinte visão: sucesso não significa ausência de desafios, mas sim ter propósito para atravessar as adversidades.

A fala dela impactou bastante, e ficou claro que, para a liderança moderna, autenticidade é um diferencial fundamental, e, sem uma conexão emocional genuína, o impacto real simplesmente não acontece.

Conclusão

Ao final do VTEX Day 2025, ficou certo que não estamos apenas diante de novas tecnologias, estamos diante de um novo mindset. A inteligência artificial, os agentes autônomos, a economia da atenção e a centralidade no ser humano compõem uma nova lógica de mercado, onde eficiência e emoção, dados e propósito, precisam coexistir.

O evento não trouxe respostas prontas, mas ferramentas para pensar melhor, decidir com mais clareza e agir com mais ousadia. Em comum, todas as falas reforçaram uma verdade inescapável: o futuro será cada vez mais liderado por quem entende de gente e sabe usar a tecnologia para potencializar o que há de mais humano.

Agora, cabe a cada líder, profissional e marca transformar essas reflexões em movimento. Porque o futuro não se prevê, se constrói.