TikTok como novo Google? A revolução da Geração Z nas buscas e seu impacto nas marcas

Nathálya Soviersovski

08/07/2025

Durante décadas, o Google reinou absoluto como principal ferramenta de busca da internet. No entanto, esse cenário vem se transformando silenciosamente (e de forma bastante significativa) com a ascensão da Geração Z. Jovens nascidos entre meados de 1997 e 2012 têm desafiado o status quo digital ao mudar seus hábitos de busca. Para eles, plataformas como TikTok e Instagram não são apenas redes sociais: tornaram-se motores de pesquisa, espaços para descoberta e validação de decisões de compra.

Esse movimento foi confirmado por um estudo do próprio Google em 2022, que revelou que cerca de 40% dos jovens preferem buscar informações no TikTok e Instagram em vez de usar o Google. Essa mudança de comportamento não é apenas uma curiosidade geracional, ela tem implicações diretas nas estratégias de marketing, branding e posicionamento digital das marcas.

Por que a Geração Z está trocando o Google pelo TikTok e Instagram?

Formato visual e interativo

A Geração Z cresceu em meio a imagens, vídeos curtos, memes e conteúdos imersivos. O formato de texto típico do Google, com links e descrições técnicas, muitas vezes não atende às expectativas dessa audiência. Já plataformas como o TikTok e Instagram oferecem uma experiência mais fluida e visual, permitindo que o conteúdo seja consumido de forma rápida e envolvente.

Vídeos curtos de reviews de produtos, tutoriais, vlogs e “mini resenhas” transformam a busca por informações em um entretenimento. A experiência é mais parecida com uma conversa espontânea com alguém de confiança do que com a leitura de um artigo técnico.

Informações práticas e genuínas

Outro fator fundamental para essa migração é a autenticidade. A Geração Z valoriza experiências reais e conteúdo não roteirizado. Enquanto os primeiros resultados no Google frequentemente remetem a portais com técnicas de SEO otimizadas, mas pouca autenticidade, no TikTok é possível encontrar depoimentos reais, testes de produtos, recomendações espontâneas e até mesmo “fails”, conteúdos que geram empatia e passam credibilidade.

Essa confiança na voz de “gente como a gente” é fundamental. Trata-se de uma geração mais desconfiada da publicidade tradicional, mas aberta a experiências compartilhadas entre pares.

Experiência personalizada e algoritmos inteligentes

As plataformas de vídeo curto, como TikTok e Instagram Reels, possuem algoritmos de recomendação que rapidamente aprendem os interesses do usuário e entregam conteúdos cada vez mais relevantes. Isso reduz o esforço de busca ativa e aumenta a percepção de que “o conteúdo encontra você”.

Enquanto o Google depende de palavras-chave bem estruturadas, os algoritmos dessas redes analisam o comportamento, tempo de visualização, interações e outros sinais para entregar conteúdos alinhados aos interesses do usuário. É uma experiência proativa em vez de reativa.

Conexão com a comunidade

Buscar no TikTok não é apenas encontrar uma resposta: é mergulhar em uma conversa. O espaço de comentários, os “duetos”, os stitches e as respostas em vídeo criam uma dinâmica de comunidade, onde os usuários interagem, complementam informações e constroem narrativas coletivas.

Essa conexão social transforma a busca em uma experiência colaborativa, algo que vai muito além da lógica linear de perguntas e respostas do Google.

O impacto dessa mudança nas marcas

Para as marcas, esse novo comportamento da Geração Z não é apenas uma tendência: é um chamado à transformação. O modelo tradicional de presença digital baseado em SEO, blogs e anúncios no Google precisa ser repensado para se adaptar a essa nova lógica de busca.

Reposicionamento da estratégia de conteúdo

Estar presente nos mecanismos de busca não é mais suficiente. As marcas precisam se tornar produtoras de conteúdo nativas dessas plataformas. Isso exige domínio do formato de vídeo curto, linguagem visual, narrativa espontânea e timing cultural.

É preciso entender os códigos do TikTok e Instagram, como trends, sons, challenges, storytelling, entre outros, e utilizá-los para construir conteúdos autênticos, relevantes e engajadores.

Marketing de influência como pilar estratégico

A ascensão das buscas via redes sociais reforça o papel dos influenciadores como mediadores de decisão. Se antes as marcas buscavam ranquear no Google, agora elas buscam ser recomendadas por creators.

Mais do que grandes celebridades, micro e nano influenciadores, que têm audiências nichadas e alto engajamento, passam a ser aliados estratégicos. Eles são percebidos como mais autênticos e confiáveis, sendo peças-chave para impactar a Geração Z no momento da descoberta de produtos e serviços.

SEO visual e o nascimento do VEO (Video Engine Optimization)

O SEO tradicional está sendo complementado por uma nova prática: VEO — Video Engine Optimization. Isso envolve otimizar vídeos para os algoritmos das redes sociais, com foco em retenção de audiência, uso de hashtags, escolha de thumbnail, timing e relevância cultural.

Em outras palavras, a lógica da otimização permanece, mas agora é aplicada a conteúdos em vídeo, dentro de ecossistemas sociais, e com foco em engajamento humano, não apenas em leitura automatizada.

Construção de marca em tempo real

Estar presente nas redes sociais de vídeo não é apenas uma questão de marketing. É uma questão de relevância cultural. As marcas que conseguem se conectar com os assuntos do momento, com humor, empatia e agilidade, ganham pontos com essa nova audiência.

Não se trata apenas de vender, mas de pertencer, entender o que importa para essa geração, participar de conversas, defender causas e gerar valor além do produto.

Além do consumo: o TikTok moldando espaços e comportamento urbano

Essa influência vai além da esfera digital. Segundo artigo publicado no ArchDaily, a estética e o conteúdo do TikTok estão impactando não só o comportamento de compra, mas também a forma como as cidades são vividas e construídas. O design de interiores, a arquitetura comercial e até decisões urbanísticas vêm sendo repensadas à luz da lógica das redes sociais — em especial, do TikTok.

Ambientes “instagramáveis” ou “tiktokáveis” deixaram de ser um diferencial para se tornarem um pré-requisito competitivo em determinados setores. Restaurantes, cafeterias, academias, salões de beleza e até farmácias passaram a considerar, no projeto de seus espaços, não apenas aspectos funcionais, mas também como aquele ambiente será percebido nas telas dos celulares. A iluminação natural, murais coloridos, neon, grafites, espelhos estrategicamente posicionados e uma paleta de cores coerente com tendências virais são cuidadosamente planejados para gerar engajamento e se tornarem pano de fundo para conteúdo nas redes.

Essa lógica cria o que alguns especialistas chamam de “urbanismo performático”, ou seja, espaços projetados não apenas para serem utilizados, mas para serem vividos digitalmente. Isso significa que a arquitetura urbana está sendo, em partes, guiada por padrões estéticos determinados por algoritmos e comportamentos de consumo digital.

Além dos espaços comerciais, o impacto atinge também a vida doméstica. A forma como a Geração Z organiza seus quartos, estúdios e até ambientes de trabalho reflete a busca por fundos visuais atrativos, prontos para gravação de vídeos ou chamadas em vídeo. Elementos como LEDs coloridos, plantas ornamentais, móveis minimalistas e painéis acústicos estão cada vez mais presentes, não apenas por estilo, mas por serem “otimizados para a câmera”.

E isso cria um ciclo: o espaço influencia o conteúdo, e o conteúdo retroalimenta o espaço. Tendências de design viralizam no TikTok e influenciam não apenas indivíduos, mas arquitetos, designers de interiores e gestores de espaços públicos e privados. É um novo tipo de influência, em que o digital não apenas reflete a cultura, mas passa a projetá-la fisicamente.

Em escala maior, essa lógica também começa a se infiltrar no turismo e na criação de pontos turísticos “cenográficos”, criados com o único propósito de atrair visitantes em busca de fotos e vídeos virais. Cidades como Dubai, Seul e Tóquio já adotaram elementos urbanos instagramáveis como parte de suas estratégias de atração turística. Murais interativos, luzes sincronizadas, escadarias coloridas e instalações sensoriais são pensadas para alimentar os feeds e consolidar as cidades como destinos “trend”.

Esse novo paradigma impõe um desafio (e uma oportunidade) para arquitetos, urbanistas e gestores públicos: como conciliar funcionalidade, sustentabilidade e estética digital? Será possível criar cidades visualmente envolventes e, ao mesmo tempo, humanas, acessíveis e resilientes?

A verdade é que o TikTok, enquanto plataforma, extrapolou os limites da tela. Ele está moldando como habitamos nossos lares, como consumimos em espaços físicos e até como desenhamos as cidades do futuro. O digital já não é apenas uma extensão do real. Em muitos aspectos, ele se tornou a principal força propulsora das mudanças na forma como vivemos, nos expressamos e interagimos com o mundo ao nosso redor.

TikTok como nova referência de busca: ameaça ou oportunidade para o Google?

O próprio vice-presidente sênior do Google, Prabhakar Raghavan, reconheceu publicamente a mudança de comportamento da Geração Z ao declarar:

“Nossos estudos mostram que quase 40% dos jovens, quando procuram um lugar para almoçar, não vão ao Google Maps ou à Pesquisa. Eles vão para o TikTok ou Instagram.”

A afirmação, vinda de um dos principais líderes da gigante da tecnologia, escancara o novo cenário: o Google, outrora sinônimo absoluto de “pesquisa online”, está perdendo espaço, especialmente entre os jovens, para plataformas que não nasceram como motores de busca, mas que vêm se tornando referências na descoberta de produtos, serviços, lugares e experiências.

Essa movimentação já provocou uma reação do Google. A empresa passou a testar a integração de vídeos curtos diretamente nos resultados de busca e vem investindo pesado em ferramentas como o Google Lens, que permitem pesquisar a partir de imagens e vídeos. O objetivo é claro: tornar a experiência mais visual, fluida e próxima da linguagem nativa das novas gerações.

Mas o desafio vai além da interface ou da tecnologia. O que está em jogo é a forma como a informação é consumida. Enquanto o Google historicamente prioriza respostas objetivas, estruturadas e baseadas em autoridade, plataformas como o TikTok oferecem um ambiente de descoberta espontânea, entretenimento e identificação pessoal. A jornada de busca se transforma em uma experiência, e para a Geração Z, isso muitas vezes importa mais do que a exatidão da resposta.

Por exemplo, ao procurar por um restaurante, o Google pode listar avaliações e mapas com base em dados. O TikTok, por outro lado, mostra vídeos de pessoas experimentando os pratos, mostrando o ambiente, reagindo ao sabor e compartilhando dicas com autenticidade. Isso cria uma conexão emocional e sensorial com o conteúdo, algo que os algoritmos tradicionais de busca ainda lutam para oferecer.

Além disso, o TikTok atua como um filtro social. Quando um conteúdo viraliza ou aparece com muitos comentários positivos, ele carrega um selo tácito de aprovação coletiva, funcionando como uma espécie de curadoria algorítmica-cultural. Esse fator de “descoberta validada pela comunidade” é extremamente poderoso para públicos que valorizam autenticidade, identificação e pertencimento, três pilares fundamentais para a Geração Z.

Diante disso, a pergunta não é apenas se o TikTok ameaça o Google, mas como o Google vai se reinventar para não perder relevância em uma jornada de consumo que se tornou emocional, interativa e centrada na narrativa.

Por outro lado, essa mudança representa também uma enorme oportunidade de transformação para o próprio Google, e para marcas que souberem enxergar o momento. Com o avanço da IA, da busca multimodal e da integração entre texto, imagem e vídeo, há um terreno fértil para criar experiências de busca mais ricas, personalizadas e inspiradoras. A disputa não será vencida apenas por quem tem mais dados, mas por quem souber traduzi-los em experiências significativas.

Para as marcas, o alerta é claro: não basta estar no topo do Google. É preciso estar presente, relevante e visual nas plataformas de descoberta onde o consumidor quer estar. E isso, hoje, significa considerar o TikTok não apenas como um canal de mídia, mas como uma plataforma estratégica de presença digital e influência direta na decisão de compra.

Conclusão: a era da descoberta visual

A substituição do Google pelo TikTok como mecanismo de busca entre os jovens não é apenas uma mudança de plataforma, é uma transformação cultural. Ela redefine como as pessoas descobrem, se informam, se conectam e consomem.

As marcas que quiserem continuar relevantes precisarão:

• Produzir conteúdo nativo, visual e interativo.
• Investir em marketing de influência e comunidades.
•  Reaprender a otimizar, agora para algoritmos sociais.
• Agir com autenticidade, empatia e senso de oportunidade.

A nova geração já deixou claro: informação não basta. Ela quer conexão, experiência e verdade.